domingo, 31 de janeiro de 2010

As engrenagens do sistema... capetalista




 
Você já deve ter ouvido que o Capitalismo é um sistema econômico-social maldito, que só visa lucro e não está nem aí para os milhares de escravos que gemem ante seus grilhões - pra usar uma linguagem bem comunista de raiz. Bom, é verdade, porém não é assim tão fácil saber por quê, e, acredite, saber sempre é importante, mesmo que não se faça nada com o conhecimento adquirido. Como ele funciona?, vocês devem se perguntar. A explicação das engrenagens básicas que movem o Capitalismo, principalmente no nosso país, vai ser o tema da coluna Capetalismo, escrita por mim, como vocês devem ter percebido.
Como todas as colunas aqui do NSN, essa não vai ter periodicidade definida (embora me esforçarei pra que ela seja quinzenal... ou até semanal) pelo simples motivo que sempre prezamos mais a qualidade que a quantidade, e sabemos que ninguém aqui recebe nada pra escrever, fora que os textos das colunas demandam tempo e pesquisa maior.
Se os conhecimentos econômicos de 90% da população já são insuficiente para entenderem as notícias furadas que são veiculadas nos jornais, quanto mais para analisar questões um pouco mais profundas. O que pretendo passar aqui vai ser o suficiente para saberem quão grande é o esforço por parte da mídia - e principalmente do governo - para manter todos desinformados ao extremo sobre o assunto. E pior: revertendo as informações de tal forma que o que é ruim ganha uma aparência de ser bom (tá bom, é de praxe em quase tudo, mas deixa pra lá). As notícias sobre economia são passadas de forma a fazer o Capitalismo se assemelhar a uma máquina de movimento perpétuo, com complexas e intrincadas engrenagens, que só servem para a esconder a verdade: elas não se movem sozinhas, e no fundo, no fundo, tem um anão que recebe para ficar movendo os mecanismos até não poder mais; e assim que ele morre, contratam outro.
Mas antes de começarmos, vamos a quatro fatos sobre o Capitalismo que todos sabem, mas acham que não. Fato número 1: esqueçam as análises dos jornais. Ou melhor, delas só extraiam os dados numéricos, pois as informações lá passadas não servem para te fazer entender como o Capitalismo é maldito. Ou você acha que quando Willian Bonner fala "que aumentou a concentração de renda", ele tem interesse em dizer que isso se deve ao fato de que o dinheiro está indo pra bancos e grandes empresas devido a empréstimos que o governo contraiu?.
Fato número 2: após as Revoluções Burguesas na época do despontar da indústria, o Capitalismo Moderno se tornou a base de funcionamento do mundo. E isso nos leva à verdade mais interessante por trás do filme Matrix (e de uma das melhores séries de quadrinhos da história, que inspirou as aventuras de Neo: Os Invisíveis): dar a uma pessoa o fator "escolha", mesmo que num nível quase incosciente, deixa ela alheia a todo o esquema prisional ao seu redor. E por esse único e exclusivo motivo os EUA ganharam a Guerra Fria. O Capitalismo Neoliberal, capitaneado pelos EUA, inundam seus escravos com uma miríade de produtos para eles ocuparem seu tempo comprando, enquanto o Comunismo sempre foi mais agressivo, e apelava para valores mais emocionais, de forma a ter fanáticos. Ganhou o que oferecia coisas materiais.
Fato número 3: o Capitalismo não vai cair num poço, ou implodir de um dia pro outro, pois é parte intrínseca da humanidade há uns 400 anos, e antes disso existiu em praticamente todas as épocas e países, só não sendo chamado efetivamente de "capitalismo" por motivos teóricos cosméticos. Então, se você o odeia, arranje mais alguns que pensam assim e vivam da maneira que quiserem (se tiver um lugar pra guardar meus livros e revistas… e ruivas, me chame). Nem um colosso como a União Soviética conseguiu derruba-lo, e não vai ser você que vai. Lamento, é a realidade, e 99% das revoluções mostram que essa é uma verdade praticamente incontestável à partir do século XX.
Fato número 4: não vai ser existir um Capitalismo igualitário, ou Capitalismo sustentável, pois ele é baseado em consumo e em endividamento. Talvez um país - ou grupo de países - consiga atingir algo assim, mas do ponto de vista global é impossível que haja tal situação exista. É como uma gangorra: um dos dois tem que estar lá embaixo para um ficar em cima! Não é possível os dois ficarem nivelados, pois a Lei da Gravidade age… e o Capitalismo é como a Lei da Gravidade no caso.

 

Mas, enfim, o que é o tão odiado Capitalismo? Para muitos o sistema passou a existir assim que surgiu a propriedade privada. Bom, se olharmos assim, o capitalismo existe desde que o mundo foi criado/bigbangueou. Desde que o homem caçou pela primeira vez, construiu a primeira clava, armou a primeira fogueira, achou a primeira caverna, plantou a primeira árvore... Basicamente é isso, embora com o tempo, ao se modernizar, o Capitalismo tenha criado uma série de mecânicas de forma a atrelar a própria sobrevivência às misérias que faz, o que significa que suas engrenagens são feitas de forma a sempre se lubrificarem, sem precisarem de líderes fortes ou partidos.
A bem da verdade, o Capitalismo moderno surgiu em meados do século XVIII, com a classe burguesa (palavra velha, Eu sei, mas foi símbolo da época) ascendendo como a mais importante, como bem mostrou as Revoluções Industrial e Francesa; cada uma a seu tempo. À época, a nobreza já dava sinais de fraqueza em tudo quanto é país, e a parte da população que realmente tinha o poder - leia-se: dinheiro - decidiu que era hora de mandar efetivamente. Nem que para isso precisasse cortar a cabeça dos que ditavam a vida política do país - Igreja e Nobreza, a hora de vocês chegou, vão pastar!. E logo depois (por logo, entenda um século) viria a Independência Americana, que terminaria por selar as bases de fundação e sustentação do Capitalismo.
O Capitalismo se baseia em dois princípios básicos: lucro e dívida. São como dois lados da moeda: pra um cara ter lucro, o outro tem que se endividar. Existe também o fator egoísmo, que é como um norte para que haja qualidade nos produtos saídos das fábricas e indústrias, e dos serviços das demais empresas. O termo foi primeiramente aplicado ao estudo das ciências econômicas pelo pensador Adam Smith, que escreveu A Riqueza das Nações. Em sua essência, a Teoria do Egoísmo (nome dado por mim) diz que, numa economia dinâmica, o egoísmo de um é benéfico para toda uma sociedade.
Imagine um trabalhador de uma linha de montagem da GM. Ele é excelente funcionário da empresa: nunca atrasa, sempre cumpre com suas metas, e tem ótimas relações com outros funcionários. É de se imaginar que ele ama sua empresa. A probabilidade disso ser verdade é baixa, e a origem de tamanho empenho pode ser explicado pelo princípio do benefício, que diz que uma pessoa tem grandes chances de gostar de uma atividade (tolerar seria a palavra) quando recebe um bom benefício, no caso do funcionário, salário. Então, o egoísmo do funcionário de ganhar bem, ser promovido, quem sabe, o motiva a trabalhar direito, mesmo que a coisa se assemelha a trabalho escravo.
Com o chefe do setor desse funcionário é a mesma coisa. Ele pode ser um jovem que acabou de sair da faculdade e foi indicado pelo pai, e deseja um futuro com os bolsos recheados de grana, e, quem sabe, uma família feliz. Mais uma vez o egoísmo dele (e sua gana por dinheiro) o motiva a trabalhar bem. E isso vale para todos os níveis. Imagine o chefão da GM. Ele deseja dominar por completo o mercado de carros e vender veículos até para o exército da Micronésia. Para alcançar isso ele precisa fazer veículos de qualidade e com bons preços (hoje os carros têm quer ser verdes também), ou não consegue concorrer com os japas e alemães (e não consegue mesmo, pois a GM foi pro buraco, como nos mostrou Michael Moore AQUI).
 
Juntemos esses dois princípios e entenderemos boa parte do que precisamos sobre Capitalismo: capitalistas (aqueles que têm coisas pra vender, seja ela produtos ou serviços) só pensam em lucrar, mas para chegar a isso precisam de qualidade, ou sucumbirão frente à concorrência (eles também têm projetos sociais, embora boa parte deles só fazem isso pela imagem que isso dá... mas não vou julgar ninguém). Os que compram saem ganhando, e a sociedade, de uma forma artificial, ganha junto. Isso em uma economia comum, e com regras econômicas comuns. Lógico que existem os monopólios, que não respeitam essa "regra", mas falaremos deles outra hora.
A diferença entre um tipo de capitalista e outro diz respeito ao papel do Estado na economia: para os liberais quanto menos o Estado criar regulamentos econômicos, melhor; enquanto que para os conservadores o Estado tem um papel importante como juiz econômico. Entendido isso vamos descer ao que realmente interessa: um breve estudo dos fatores que norteiam a política econômica brasileira, que em essência é um microcosmo para entendermos a Economia Mundial, embora países diferentes tenham políticas econômicas diferentes, com interesses diferentes.
Então é isso, amanhã começamos. Só algumas observações: a) falar de Economia é menos divertido que imaginei, apesar de altamente interessante, então farei o possível para não ter textos com longas explicações enfadonhas no estilo "professor de primário". b) No início achei que conseguiria falar tudo em umas quatro postagens, mas organizando tudo me ficou claro que precisarei de bem mais. c) como disse, não tem periodicidade ou dia certo para saírem os textos, mas farei o impossível para manter o ritmo, para não perdermos a linha de raciocínio.

PS: Alguns vão argumentar que o Capitalismo é um sistema unicamente econômico, deixando o social de fora. Discordo, pois os efeitos deles na sociedade são assombrosamente visíveis, e irreversíveis, visto que a economia é sempre colocada acima do lucro.
Até lá...

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